Vestiário FC #2 – Venezuela

Vestiário FC #2 – Venezuela

A série Vestiário Futebol Clube, que teve sua estreia dentro do Contra-Ataque duas semanas atrás, tem continuidade nesta sexta-feira com a camisa de uma seleção. A camisa apresentada hoje é o uniforme principal da seleção da Venezuela que foi utilizado entre os anos de 2015 e 2017.

A seleção Vinotinto é a única filiada à CONMEBOL que nunca se classificou para uma Copa do Mundo. Isso se deve muito à própria cultura do país, que tem o beisebol como principal esporte. O início no futebol foi tardio e incentivado principalmente por imigrantes europeus que viviam no país. Algumas colônias eram tão presentes a ponto de dar nome aos primeiros grandes clubes do país – caso do Deportivo Italia, Deportivo Galicia, Portuguesa e Deportivo Portugués.

Também houve influência brasileira no amadurecimento do esporte no país: o falecido Orlando Fantoni, ex-atacante com passagem por Cruzeiro, Lazio e Vasco da Gama, foi um dos primeiros treinadores da seleção local. Ele também treinou equipes venezuelanas como os já citados Deportivo Portugués, Deportivo Italia e o UCV, clube da Universidade Central da Venezuela. A primeira vitória de um clube venezuelano na então chamada Copa dos Campeões da América ocorreu em solo brasileiro no dia 8 de abril de 1964: uma vitória por 2×1 do Deportivo Italia em cima do Bahia, com gols dos brasileiros Jayme e Iranildo para os venezuelanos. Os Azules possuíam mais cinco brasileiros na equipe titular, além do já citado Fantoni no banco.

Por conta do início tardio do esporte na Venezuela, a seleção local foi a última entre as 10 sul-americanas a participar das eliminatórias para a Copa do Mundo – o que aconteceu somente em 1965, com a participação da Vinotinto na qualificação para a Copa do Mundo do ano seguinte, disputada na Inglaterra. O primeiro triunfo aconteceu 16 anos depois: foi uma vitória pelo placar mínimo em cima da Bolívia em um jogo disputado na capital Caracas. Apesar do placar, a Venezuela não saiu da lanterna do grupo das eliminatórias.

A falta de competitividade histórica do país fica mais aparente quando analisamos os resultados da Vinotinto. A primeira vitória venezuelana em uma Copa América ocorreu em 1967, um 3×0 sobre a Bolívia no Estádio Centenario de Montevidéu. Os torcedores locais precisaram esperar 40 anos para ver a segunda vitória venezuelana em Copas América, um triunfo por 2×0 em cima do Peru na edição de 2007, que foi disputada na própria Venezuela. A primeira vez que a seleção local não terminou na última posição das eliminatórias foi na competição voltada a definir os classificados para a Copa do Mundo de 2002; na ocasião, a Vinotinto terminou a fase na vice-lanterna, à frente do Chile.

Depois de tantos anos com fama de saco de pancadas do futebol sul-americano, podemos ver uma evolução mais clara a partir dos anos 2000. Isso ficou mais claro após a Copa América de 2007, que provou com seus bons públicos que a população venezuelana também gosta do esporte bretão. Nas eliminatórias para as Copas do Mundo de 2010 e 2014, a Venezuela teve um desempenho mais consistente dentro de campo e passou perto da vaga nos play-offs intercontinentais nas duas oportunidades.

Fabricada pela Adidas, a peça foi criada e produzida com o objetivo de ser utilizada na Copa América de 2015. Diferente das seleções mais famosas, que tem uma dupla de camisas por temporada, a Venezuela utilizou o uniforme vinho com listras amarelas na altura dos ombros e detalhes amarelos na gola e na barra da camisa por dois anos e meio. A camisa de visitante seguia o mesmo padrão de cores, com as únicas diferenças sendo a disposição do vinho e do amarelo (na camisa visitante as cores se invertiam) e o formato da gola.

O uniforme foi utilizado pela primeira vez em um amistoso da Vinotinto contra a Jamaica disputado em Montego Bay e que terminou com a vitória dos Reggae Boyz por 2×1. Na Copa América do mesmo ano, disputada no Chile, a Venezuela foi sorteada no grupo C, junto do Brasil, Peru e Colômbia. Com uma vitória (obtida sobre os colombianos) e duas derrotas em três jogos, a seleção Vinotinto voltou para a casa bem cedo. O time base comandado por Noel Sanvicente era formado por Alain Baroja, Roberto Rosales, Oswaldo Vizcarrondo, Andrés Túñez e Fernando Amorebieta; Tomás Rincón, Luis Seijas, Juan Arango, Alejandro Guerra e Ronald Vargas; Salomón Rondón.

Com uma campanha decepcionante nas eliminatórias – um ponto obtido em 18 disputados, Noel Sanvicente pediu demissão do posto de treinador da seleção e deu lugar a Rafael Dudamel, que já comandava o time sub-20 da Venezuela. Foi na Copa América Centenario, disputada nos Estados Unidos em 2016, que a seleção Vinotinto brilhou. Após ser sorteada no grupo C com México, Jamaica e Uruguai, a Venezuela passou invicta pela primeira fase, com direito a uma vitória por 1×0 sobre o Uruguai.

Pela primeira vez em sua história a seleção venezuelana chegava a um mata-mata de Copa América. A eliminação veio após uma derrota de 4×1 para a Argentina, jogo no qual a Venezuela entrou em campo com Dani Hernández, Alexander González, Wilker Ángel, Oswaldo Vizcarrondo e Rolf Feltscher; Alejandro Guerra, Tomás Rincón, Arquímedes Figuera e Luis Seijas; Salomón Rondón e Josef Martínez. A Venezuela conseguiu vencer seu primeiro jogo nas eliminatórias em outubro de 2016, uma 5×0 sobre a Bolívia válido pela 11ª rodada da competição.

Dentro de campo, era possível ver um time mais seguro na defesa, mas que dependia demais dos lampejos do ataque. Ao longo do ano de 2017, a Venezuela disputou sete jogos: uma vitória sobre o Paraguai, cinco empates e uma derrota para o Chile. A partida mais simbólica do período foi contra a Argentina: a Vinotinto calou os 60 mil espectadores presentes no Monumental de Núñez após um empate por 1×1. O time de Dudamel entrou em campo com Wuilker Faríñez, Victor García, Jhon Chancellor, Mikel Villanueva e Rolf Feltscher; Arquímedes Figuera, Junior Moreno, Jhon Murillo, Yangel Herrera e Sergio Córdova; Salomón Rondón.

Como foi possível perceber, a seleção venezuelana mudou muito durante os anos de utilização da camisa exibida no início do post. Isso se deve a outra competição que foi disputada pela Vinotinto com a camisa de 2015 e que permitiu que vários jogadores se destacassem: o Mundial Sub-20 de 2017. Disputado na Coreia do Sul, o torneio teve como principal surpresa a seleção venezuelana. Após vitórias sobre México, Alemanha e Vanuatu na fase de grupos, a seleção comandada pelo mesmo Rafael Dudamel seguiu invicta até a final, passando por Japão, Estados Unidos e Uruguai. A caminhada não terminou do jeito esperado, pois a Venezuela perdeu a final para a Inglaterra; de todo modo, o Mundial Sub-20 foi bastante útil para revelar nomes já prontos para a seleção principal.

Foto: AFP

João Pedro

Embora não faça nenhum curso relacionado ao jornalismo, vê na escrita de textos uma forma de externar sua paixão sobre o esporte. Esteve por dois anos na equipe de esportes da Rádio do Comércio de Barra Mansa.

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