A aventura do Beija-flor na Cidade das Flores com a rivalidade entre AGA e Sete de Setembro

A  aventura do Beija-flor na Cidade das Flores com a rivalidade entre AGA e Sete de Setembro
Foto: arquivo Johny Albino

Por Leandro Paulo Bernardo, cirurgião dentista e pesquisador de futebol

Durante as décadas de cinquenta, sessenta e setenta, AGA e Sete travaram grandes duelos nos campeonatos de Garanhuns. Era o maior clássico da Suíça Pernambucana, com mais torcedores e títulos do que IAC, Esporte e Arraial.

No início de 1981 a Federação Pernambucana de Futebol sinalizou a intenção de abrir vagas para novas equipes: uma de Garanhuns e outra de Paulista, para junto das equipes de Caruaru (Central e Atlético) e do Comercial de Serra Talhada, e expandir o campeonato além das fronteiras do Recife.

Naquele mesmo ano a própria Federação organizou o Campeonato do Interior (não havia segunda divisão em Pernambuco) e a AGA era uma das equipes mais tradicionais da competição. Alguns políticos locais, comerciantes e pessoas mais ricas da cidade sempre torceram mais para que a Lavandeira pudesse representar Garanhuns na primeira divisão. As festas no salão da AGA representavam mais a elite local.

Já o Sete contava com o apoio do Vereador Severino Albino, do Governador Marco Maciel e da sua torcida. Desde 1971 vinham se organizando para construir seu estádio e tinham pego uma linha de crédito que o Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco) havia disponibilizado para reformas e ampliações de alguns estádios no estado.

Diário de Pernambuco estádio Garanhuns
Foto: reprodução/Diário de Pernambuco

O projeto inicial para o Gigante do Agreste citava uma capacidade para receber 40 mil espectadores. Por essa questão de “estádio moderno”, clube com maior apelo popular, projeto bem planejado e articulações na FPF, o Sete era disparado o favorito.

Apresentação maquete Estádio Gigante do Agreste
Apresentação da maquete do Estádio Gigante do Agreste. Da esquerda para a direita: Jaime Pinheiro, Severino Albino (presidente do Sete), dep. José Tinoco, gov. Marco Maciel, dep. Airon Rios e dep. José Muniz. Foto: arquivo Johny Albino

Tudo estava tranquilo até o prefeito de Garanhuns, Ivo Amaral, ir pessoalmente ao Recife para acertar um amistoso contra o Sport. No dia 20 de Agosto de 1981 haveria uma grande festa para inauguração dos refletores do Estádio Gerson Emery… estádio da AGA que completava 25 anos. Ivo Amaral havia sido presidente e diretor da AGA. Durante sua gestão como presidente do clube foram construídos os alambrados do Gerson Emery. O próprio Rubem Moreira cogitou em 1977 incluir uma equipe de Garanhuns numa competição nacional.

AGA x Sport Gerson Emery
Foto: reprodução/Diário da Manhã

O Sport fez um encaixe na sua agenda do estadual para jogar em Garanhuns. O time iria enfrentar o Central em Caruaru no dia 23 pelo quadrangular do Segundo Turno. O cachê acertado foi de 300 Mil Cruzeiros, pagos pela Prefeitura de Garanhuns e algo interessante para o clube pernambucano que precisava pagar seu elenco experiente e reformar a Ilha do Retiro.

O Sport levou toda sua equipe titular e venceu a AGA pelo placar mínimo. 3140 pagantes estiveram no ” Estádio dos Eucaliptos”, embora muita gente afirmasse que haviam mais de seis mil pessoas no estádio, além de várias do lado de fora e no Relógio das Flores (cartão postal da cidade, ao lado do Gerson Emery e inaugurado em 25/01/1981)

AGA x Sport Gerson Emery
Foto: reprodução/Diário da Manhã

A atuação aguerrida da AGA, especialmente do espetacular Goleiro Zezé, chamou a atenção de todos. Foi um jogo muito forte, competitivo numa noite de quinta-feira fria de inverno.

AGA x Sport Gerson Emery
Foto: reprodução/Diário de Pernambuco

Começavam novamente as especulações sobre quem deveria ser o representante da cidade na primeira divisão e a rivalidade esportiva aflorava novamente.

AGA de Garanhuns
Em pé: Laércio, Sargento Melo, Sebastião, Dema, Zezé, Pinhas, Edson Silva, Edmilson e Geraldão. Agachados: Bêda, Sairá, Torinho, Marinaldo e Washington. Foto: arquivo de Adecio Bernardino

O Sete precisava de uma resposta rápida para ratificar seu projeto e acabar com cogitações. Essa “resposta” chegaria graças a um tricampeão do mundo.

A direção do Sete e a Federação Pernambucana conseguiram agendar um amistoso contra o Bahia para o dia 07 de Setembro de 1981. Iriam comemorar os 31 anos do Sete e a inauguração da primeira etapa do Gigante do Agreste.

No dia 06 de Setembro o Bahia perdeu para o Leônico pelo Campeonato Baiano por três a um. Foi a preliminar de Vitória e Galícia, pois assim que terminou a partida alguns jogadores e o presidente Paulo Maracajá viajaram para Garanhuns, lógico que a estrela maior do Esquadrão naquele momento também encarou os 620 KM; Dadá Maravilha.

Dadá foi para o Bahia vindo do Santa Cruz, após a épica classificação do Esquadrão contra o próprio Santa Cruz nas Oitavas de finais do Brasileirão de 1981. Mas com aquele carisma ímpar Dadá Maravilha facilmente caiu nas graças da torcida do Bahia, tanto que antes de viajar para Garanhuns ele já era artilheiro disparado do Baiano com 20 gols, à frente do antigo ídolo do Bahia Beijoca que estava na Catuense.

Na manhã de 07 de Setembro o Bahia chegou a Garanhuns. Imediatamente Dadá desfilou de carro aberto junto ao desfile cívico das escolas e Exército pela avenida Santo Antônio. O Beija-flor ainda conheceu o folclórico Bacalhau, morador de Garanhuns e torcedor do Santa Cruz, que foi para Salvador de bicicleta para assistir àquele jogo do Brasileirão.

Dadá Maravilha em carro aberto
Foto: arquivo Johny Albino

Só que Dadá tomou uma grande vaia de um grupo de pessoas que ouviram ele afirmar para um radialista local: “Vim enfrentar o Sete, no dia Sete e vou marcar Sete gols”.

Rubem Moreira e Paulo Maracajá
Rubem Moreira, presidente da FPF, e Paulo Maracajá, presidente do Bahia, em Garanhuns. Foto: arquivo do saudoso Galdino Silva

O jogo teve mais de sete mil pagantes, numa tarde de uma segunda-feira ensolarada e quase Primavera na Cidade das Flores. Foi uma festa gigante e Dadá Maravilha não conseguiu marcar os sete gols… mas marcou seis. O Bahia venceu o Sete de Setembro por 6 x 2.

Estádio Gigante do Agreste
Foto: arquivo Johny Albino

A trégua entre Sete e AGA também foi firmada. Tanto que a preliminar do jogo foi um amistoso dos juvenis das duas equipes.

Dadá com jogadores juvenis da AGA
Dadá com jogadores Edvaldo Rodrigues e Zé Leite, juvenis da AGA. Foto: arquivo Edvaldo Rodrigues

Em outubro saiu a confirmação oficial que o Sete seria mesmo o representante da cidade. No dia 30 de Maio de 1982 o Sete realizou sua primeira partida oficial no Estadual justamente contra o Sport que quase ajudou o seu maior rival.

Sete de Garanhuns x Sport 1982
Foto: reprodução/Revista Placar

As duas equipes só estiveram juntas profissionalmente na segunda divisão de 2000. A AGA venceu aquela edição e teve Luis Carlos (ex-atacante do Sport nos anos 80) como destaque, mas atualmente encontra-se licenciada das competições oficiais.

O Sete de Setembro venceu uma edição da segunda divisão em 1995, tendo como destaque o Atacante Quincas, o Van Basten do Agreste, maior ídolo na história Setembrina. O Lobo Guará estará presente no atual campeonato estadual da primeira divisão.

Dedico esse texto a todos os atletas que contribuiram para o futebol de Garanhuns, especialmente ao saudoso amigo e mestre Professor Zezé que deixou um legado inesquecível em Garanhuns e Quipapá.

Equipe Contra-Ataque

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