Com problemas financeiros e esportivos, a Académica de Coimbra busca salvar a temporada
Rebaixada ao final da temporada 2015-16, a Associação Académica de Coimbra havia acabado de passar pelo melhor momento de sua história recente. Campeã da Taça de Portugal em 2012 após superar o Sporting na decisão, a Briosa encerrava com o rebaixamento uma sequência de 14 temporadas na Primeira Liga portuguesa. Os anos seguintes mostraram que a equipe alvinegra estava disposta a retornar à elite com sucessivas campanhas nas quais lutou pelo acesso. Na atual temporada, porém, a história é diferente: com apenas uma vitória em 14 jogos, a Académica está na 18ª e última colocação da Segunda Liga, se aproximando do inédito rebaixamento para a terceira divisão.
O roteiro da temporada 2021-22 da Académica começou a dar sinais de fragilidade durante a janela de transferências do meio do ano. 4º lugar na temporada anterior da Segunda Liga, a Briosa perdeu peças importantes, caso do zagueiro Rafael Vieira (hoje no Nacional da Ilha da Madeira), do lateral-esquerdo brasileiro Bruno Teles (atualmente no Chaves) e principalmente do atacante marroquino Mohamed Bouldini, vice-artilheiro da liga com 13 gols, que foi contratado pelo Santa Clara.
A contratação de alguns desses atletas por equipes concorrentes na Segunda Liga já mostrava sinais acerca da situação financeira dos academistas. As peças de reposição em sua maioria vieram do banco dos principais concorrentes (caso do hondurenho Jonathan Toro, reserva no Chaves e atualmente titular na Académica) ou do time titular das equipes que não brigaram pelo acesso. O elenco fragilizado tem origem na complicada situação econômica do clube, que busca fazer a transição de SDUQ (Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas) para SAD (Sociedade Anônima Desportiva).
A Académica possui uma estrutura organizacional incomum dentro do futebol português, com a parte do clube societário e um órgão autônomo de futebol. Conforme divulgado no último balanço financeiro da Associação Académica de Coimbra, ambos possuem um resultado passivo somado de pouco mais de 13 milhões de euros (cerca de R$ 85 milhões, de acordo com a cotação atual). No modelo da SAD, é possível obter investidores com mais facilidade, visto que o clube não é obrigado a permanecer com o controle acionário Além do dilema financeiro, há o desafio dentro de campo, sem resultados que correspondam às expectativas – conforme destacado pelos sócios na aprovação das contas.
Rui Borges, treinador responsável pelo quase acesso da Académica na temporada passada, foi mantido na função para a temporada 2021-22, mas acabou despedido após sete partidas sem vitória logo no início da temporada. Para seu lugar, chegou o experiente João Carlos Pereira, despedido após sete jogos e uma vitória, obtida na prorrogação sobre o fraco Alpendorada em partida da Taça de Portugal. Pedro Duarte assumiu a posição de treinador da Académica no final de novembro no que definiu como “o maior desafio da carreira”. Com ele, veio a primeira vitória, um 3×0 sobre o Sporting de Covilhã e o primeiro ponto fora de casa, conquistado ao empatar sem gols com o Penafiel.
A derrota dentro de casa para o Chaves no último domingo trouxe à tona novamente o fantasma da inédita queda à terceira divisão. Com a segunda pior defesa do campeonato, a Académica amarga a lanterna com 6 pontos obtidos ao longo dos 14 jogos, um aproveitamento de apenas 14,3%. Embora a sequência recente possa dar um alento aos torcedores academistas, ainda há um longo caminho a ser percorrido: a equipe de Coimbra está 8 pontos atrás do Farense, 15º colocado e primeiro clube acima das incômodas posições de rebaixamento e de play-off. Sem uma solução a curto prazo para o atual estado do clube, os atletas precisarão correr dobrado caso queiram evitar o inédito rebaixamento.