As colônias estrangeiras que formaram clubes no futebol argentino

As colônias estrangeiras que formaram clubes no futebol argentino
Foto: reprodução/Infobae

O futebol argentino apresenta uma forte influência de outros países desde os primórdios de sua história. Dos cinco grandes, três possuem origens estrangeiras quando falamos de nome, cores ou fundadores. Na era amadora, os clubes formados por imigrantes ou seus descendentes dominaram o campeonato por mais de 20 anos a partir de sua criação em 1891. Daquela época, poucos clubes seguem ativos e a inspiração dos países europeus ficou na história das principais equipes, representando uma parte do passado glorioso dos clubes tradicionais.

Por outro lado, alguns clubes ainda se mantém fiéis às suas origens. Embora não façam parte da principal divisão do futebol argentino, cinco equipes portenhas seguem conectadas às comunidades que originaram agremiações tradicionais e que passam por dificuldades nos dias atuais.

Deportivo Armenio

Fundado em 1962 por membros da comunidade armênia como Club Armenio de Futebol, a equipe ganhou o nome que ostenta atualmente em 1968. Dois anos depois, se filiou à Associação de Futebol Argentino (AFA) e passou a integrar as competições do futebol portenho.

O Deportivo Armenio passou mais da metade de sua história no terceiro escalão do futebol argentino. Das 52 temporadas em que esteve ativo, 33 delas foram na categoria de bronze da Argentina, atualmente chamada de Primera B Metropolitana. A tradição nas divisões inferiores não impediu o clube de viver seu apogeu no final da década de 1980, quando o Armenio conquistou o título da recém-formada Primera B Nacional e o acesso à elite do futebol argentino.

A 13ª colocação obtida na temporada de estreia (1987-88) deixou a equipe suficientemente distante de qualquer chance de retorno à divisão de acesso logo após a primeira participação. A 19ª e penúltima posição no campeonato de 1988-89, porém, não foi suficiente para evitar a queda. Na temporada seguinte, outro revés: com apenas 22 pontos de 84 possíveis, La Diáspora concluiu a edição de 1989-90 da Primera B Nacional na lanterna e amargou o segundo rebaixamento consecutivo.

Apesar da ligação com a terra de origem, o Deportivo Armenio nem sempre utilizou as cores do país em seus símbolos. Após utilizar escudo e camisa preto e branco e até mesmo verde e branco por muitos anos, somente na década de 2000 que a equipe adotou o vermelho, azul e laranja da bandeira armena e passou a utilizar as cores com mais frequência. Atualmente, o Armenio disputa a Primera B, terceira categoria do futebol argentino, e concluiu a temporada 2021 na 12ª posição.

Deportivo Paraguayo

Dos clubes citados no texto, este é o que possui a estrutura mais simples. Criado em 1961 por paraguaios que viviam em Buenos Aires, sequer possui um estádio próprio, exercendo seu direito de mandante no estádio Juan Antonio Arias, de propriedade do Liniers. O futebol nunca foi um grande expoente da importância do clube para a comunidade paraguaia – ao longo dos 60 anos de história, Los Albañiles só conquistaram um título, o da Primera D (quinta divisão argentina) em 1991.

O destaque fica para o lado social do Club Atlético Deportivo Paraguayo. Com uma imponente sede social situada entre os bairros de Barracas e San Telmo, outros esportes e atividades são desenvolvidos para a comunidade guarani presente em Buenos Aires. Dentro de campo, a temporada 2021 não foi boa para o clube, que concluiu o campeonato da Primera D na 12ª e última posição.

Centro Español

Outro integrante da Primera D, o Centro Social y Recreativo Español foi fundado em 1934 por imigrantes espanhóis que buscavam unidade frente aos acontecimentos no país de origem, que estava à beira de uma guerra civil. Tal como o Deportivo Paraguayo, o Centro Español nunca foi um clube muito competitivo e possui um caráter de clube social, com foco em outras atividades e esportes.

O Centro Español é dono de um título ingrato dentro do futebol argentino: desde sua primeira participação nas competições promovidas pela AFA, Los Gallegos nunca conseguiram um acesso. O Centro divide esse título com o Yupanqui, mas ao contrário do Trapero, a equipe da colônia espanhola já foi desfiliada temporariamente após concluir a temporada da Primera D na última colocação em cinco ocasiões, a mais recente no ano de 2015.

A escrita pode ser quebrada na temporada em que estamos: após conseguir apenas a sexta melhor campanha entre os 12 participantes da Primera D, o Centro Español superou Juventud Unida de San Miguel e Defensores de Cambaceres no mata-mata pela segunda vaga de acesso. Na final, o desafio é mais duro: o oponente será o Puerto Nuevo, campeão do Torneo Apertura. A decisão será disputada nos dois próximos finais de semana.

Deportivo Español

Criado em 1956 por uma parcela da colônia espanhola que possuía o desejo de agrupar todos os descendentes apaixonados por futebol em um único clube, o Club Deportivo Español ganhou espaço com poucos anos de vida. A equipe estreou na quarta divisão na temporada 1957 e em 1961 já era um dos integrantes da Primera B, segunda divisão argentina na época. Em 1967, veio a sonhada estreia na elite do futebol argentino, mas a participação não durou mais de uma temporada.

Embora um rebaixamento não seja benéfico para clube algum, no caso do Deportivo Español foi um marco importante para que o clube se organizasse internamente. Nos anos 60 e 70, a agremiação começou a construir sua estrutura em um terreno cedido pela Cidade Autônoma de Buenos Aires – terreno este que posteriormente foi comprado pelo Deportivo Español durante a gestão de Francisco Ríos Seoane, dono de uma cervejaria local e presidente do clube em seu período de ouro.

Com estádio para quase 20 mil pessoas, sede e promovido à Primera División argentina na temporada 1984, o Deportivo Español se tornou uma das principais equipes do país. Boas campanhas, como o 3º lugar nas temporadas 1985-86 e 1988-89 (foto) e o 6º lugar na temporada 1992-93 credenciaram o Deportivo Español à participações na Copa Conmebol em 1992 e 1993.

Parcerias suspeitas e desempenhos irregulares nas quatro linhas levaram um clube dono de um bom estádio e que possuía 25 mil sócios ao rebaixamento na temporada 1997-98. Na temporada 1999-2000, novo rebaixamento (este, para o terceiro escalão) e uma grave crise financeira se instalou no clube, que quase quebrou. Desde então, o Deportivo Español oscila entre a Primera B e a Primera C, respectivamente terceira e quarta divisões do futebol argentino.

Sportivo Italiano

O maior clássico disputado pelo Deportivo Español é o Clássico das Coletividades, no qual a equipe de descendentes da Península Ibérica enfrenta o clube de descendentes da Península Itálica, o Sportivo Italiano. Fundado em 1955 como Associazione del Calcio Italiano en Argentina, a equipe azzurra (tal como a seleção italiana) se filiou à AFA em 1959 e passou anos nas divisões inferiores do futebol portenho.

Os resultados dentro de campo seguiram tímidos mesmo após a troca de nome para Deportivo Italiano durante a década de 1970. Daquela época, ficam as recordações de um amistoso disputado contra a Itália às vésperas da Copa do Mundo de 1978. A década seguinte foi a melhor da história do Deportivo Italiano, que disputou a primeira divisão argentina na temporada 1986-87 e participou de forma competitiva da segunda divisão.

Problemas financeiros obrigaram o clube a vender uma de suas sedes no início da década de 1990. Com o passar dos anos, o Deportivo Italiano perdeu força e não conseguiu ter uma nova chance de retornar ao primeiro escalão do futebol argentino. Em 2003, houve a mudança de nome para Sportivo Italiano, até o momento a última do clube. Em meio a tantas instituições tradicionais e de estádios antigos, o Azzurro é dono do estádio República de Italia, inaugurado em 2005.

João Pedro

Embora não faça nenhum curso relacionado ao jornalismo, vê na escrita de textos uma forma de externar sua paixão sobre o esporte. Esteve por dois anos na equipe de esportes da Rádio do Comércio de Barra Mansa.

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