Atualmente longe dos holofotes, Cuba já obteve grande sucesso em uma Copa do Mundo
A nível futebolístico, Cuba é um dos países mais isolados de todo o continente americano. A seleção local ficou restrita aos atletas que atuavam no futebol cubano até março de 2021. Deserções eram comuns nas participações da seleção caribenha na Copa Ouro. A participação do Santiago de Cuba na edição de 2019 do Caribbean Club Shield, torneio focado nas equipes semiprofissionais e amadoras da região, marcou a primeira vez desde 2007 que um clube cubano disputou uma competição internacional. Diante das fracas campanhas recentes da seleção e dos clubes, a participação na Copa do Mundo de 1938 segue como a principal história do balompié cubano.
Tal como parte das histórias mundialistas daquele período, a chegada de Cuba à Copa do Mundo não envolveu uma classificação dramática ou um jogo extremamente faltoso. A distribuição de vagas para a terceira edição do mundial de seleções era bastante focada no continente europeu, que recebia 11 das 16 vagas na competição. As outras cinco vagas eram reservadas ao atual campeão, país-sede, duas seleções americanas e uma seleção asiática. Cuba estava no grupo 11, junto de outras seleções geograficamente próximas: Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Estados Unidos, Guiana Holandesa (atual Suriname) e México. Todas desistiram das eliminatórias, deixando Cuba como dona da vaga em sua segunda tentativa de fazer parte da principal competição do futebol mundial – os Leões do Caribe disputaram as eliminatórias para a competição de 1934 sem obter sucesso.
Assim, Cuba se juntava ao Brasil e às Índias Orientais Holandesas (hoje, conhecidas como Indonésia) como as três seleções não-europeias que disputariam a última Copa do Mundo antes da II Guerra Mundial. Do Velho Continente, além da França (país-sede da competição) e da Itália (defendendo o título), se classificaram Alemanha, Áustria – que posteriormente desistiu da disputa, Bélgica, Holanda, Hungria, Noruega, Polônia, Romênia, Suécia, Suíça e Tchecoslováquia. Para as seleções não-europeias, só havia uma forma de chegar à França: de navio. A seleção cubana partiu de Havana no dia 22 de maio em direção aos Estados Unidos, onde fariam uma escala antes de chegar na França com seu curto elenco de apenas 16 jogadores e o técnico José Tapia.
A fórmula de disputa seguiu a mesma da edição de 1934: as 16 seleções eram sorteadas em oito confrontos e os jogos ocorriam no formato de mata-mata, assim como é na fase final disputada atualmente. Sem a possibilidade da disputa de pênaltis, as partidas poderiam ser refeitas caso o empate persistisse após a prorrogação. Cuba foi sorteada em uma chave teoricamente mais fácil, que não continha o país-sede nem os finalistas da Copa do Mundo de 1934. As seleções mais competitivas eram Hungria e Alemanha. Embora não fosse considerada uma seleção muito forte, a Romênia fazia parte do seleto grupo de quatro seleções que haviam disputado todas as Copas do Mundo até então – junto da França, da Tchecoslováquia e do Brasil. A Tricolorii foi sorteada para ser a adversária de Cuba na primeira fase.
Às 17h do dia 5 de junho de 1938, no Stade du TOEC em Toulouse, Cuba e Romênia iniciavam sua trajetória na terceira edição da Copa do Mundo diante de apenas 7 mil pessoas que escolheram acompanhar aquele jogo na tarde de um domingo marcado por seis partidas simultâneas – entre elas, a estreia da anfitriã contra a Suíça. Os Leões do Caribe entraram em campo com Carbajales, Barquín e Chorens; Arias, Bergés, Tomás Fernández e Rodríguez; Socorro, Sosa, Tuñas e Magriñá. Em um jogo tenso, a Romênia abriu o placar com um gol de Bindea aos 35 minutos e aos 44, Socorro empatou para os cubanos. No segundo tempo, Magriñá virou o placar aos 24 minutos e no final do tempo regulamentar, Barátky marcou o tento que forçou a prorrogação. Mais um gol de Socorro e um gol romeno de Dobay fecharam a primeira partida em 3×3, exigindo a realização de um jogo extra.
Quatro dias depois, no mesmo estádio de Toulouse, as duas seleções faziam o jogo desempate. A única mudança no time cubano aconteceu no gol: mesmo após uma grande exibição, Benito Carbajales foi substituído por Juan Ayra. O reserva não comprometeu, desempenhando um papel importante em um jogo no qual a Romênia saiu na frente após um gol de Dobay e sofreu a virada no segundo tempo com gols de Socorro e Tomás Fernández. O apito final soou e pela primeira vez uma seleção caribenha alcançou a fase de quartas de final de uma Copa do Mundo.
A necessidade de um segundo jogo colocou a seleção cubana em uma situação difícil para a partida das quartas de final: enquanto os suecos chegariam descansados após avançarem de fase devido à desistência da Áustria, os comandados de José Tapia disputariam três jogos no espaço de uma semana. O bonito cenário da cidade litorânea de Antibes contrastava com o campo enlameado do Stade du Fort Carré no dia 12 de junho de 1938, data da realização das quatro partidas da fase de quartas de final.
A diferença de nível entre as duas equipes se fez clara na primeira etapa: aos nove minutos, Harry Andersson abriu o placar para os suecos, e Gustav Wetterström ampliou o marcador mandando a bola na rede por outras três vezes antes do intervalo. Mesmo após Tomás Fernández perder um pênalti no final da primeira etapa, a equipe cubana não perdeu o ânimo e segurou os suecos por quase todo o segundo tempo. Nos últimos 10 minutos de jogo, dois gols de Harry Andersson, um de Arne Nyberg e um de Tore Keller deram números finais à partida, um sonoro Suécia 8×0 Cuba.
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Recebida com festa em Havana, a seleção cubana não voltou a jogar com o mesmo time de 1938 em uma partida competitiva: o goleiro Benito Carbajales faleceu no início do ano seguinte e o contexto do futebol internacional, paralisado por causa da II Guerra Mundial, impediu que aquela equipe pleiteasse por uma vaga em uma outra Copa do Mundo. Parte daquele time disputou, sem obter muito sucesso, um torneio amistoso na Colômbia em 1939. Desde então, as memórias de uma das primeiras Copas do Mundo, quando a seleção cubana ainda utilizava um uniforme branco e preto, permeiam o imaginário do futebol cubano como a única lembrança marcante de seu país no cenário internacional.