Com a iminente mudança de seu formato, a Copa do Nordeste passa a ser menos justa

Com a iminente mudança de seu formato, a Copa do Nordeste passa a ser menos justa
Foto: Gustavo Simão/Fortaleza EC

Recriada de vez em 2013 após anos fora do calendário oficial dos clubes, a Copa do Nordeste se tornou uma competição imprescindível na temporada das grandes equipes da região. Com um formato objetivo, coerente e uma divisão interessante das receitas televisivas, o equilíbrio foi uma marca do campeonato em seus primeiros anos após o retorno. As mudanças recentes, como um novo critério de entrada via Ranking da CBF e a troca do formato da fase de grupos, diminuíram a justiça do torneio. Com o iminente novo formato de classificação para a fase preliminar, fica difícil entender o que os dirigentes realmente querem da competição.

Segundo informações preliminares que se baseiam nos comunicados das Federações Cearense e Maranhense de Futebol, a Copa do Nordeste não terá mais os 20 participantes da atual fórmula de disputa, e sim 36. As 16 novas equipes seriam escolhidas inteiramente de acordo com o Ranking da CBF, sem nenhuma vaga para os melhores colocados dos estaduais. Os campeonatos promovidos por cada uma das nove federações nordestinas seguiriam premiando somente o campeão com a vaga na Copa do Nordeste. Cabe lembrar que de acordo com o antigo método de classificação, equipes como Santa Cruz e América de Natal ficariam fora da disputa.

A motivação da mudança ainda não foi totalmente esclarecida, mas a ausência de uma das sete equipes ditas “maiores do Nordeste” certamente pesou para a escolha de um novo formato. A entrada de equipes via Ranking da CBF que ocorre desde 2018 foi concebida para não deixar de fora camisas pesadas que não foram competentes o suficiente para obter a vaga via estadual.

Com a nova distribuição, até mesmo clubes da segunda divisão de seus respectivos estados conseguiriam disputar a fase preliminar da Copa do Nordeste, caso do Floresta de Fortaleza e do Central de Caruaru. O Vitória não alcança a fase final do Campeonato Baiano desde 2018 e mesmo assim participa da competição regional a cada ano graças ao critério de entrada via Ranking da CBF. Para uma campeonato que nasceu com vagas unicamente pelo mérito obtido dentro de cada campeonato local e que já ficou sem Fortaleza, Santa Cruz e o próprio Vitória após campanhas insuficientes, a mudança é um duro golpe para o torcedor que acreditava que não haveriam vagas cativas no campeonato.

Vemos que as equipes mais interessadas em obter sucesso através da Copa do Nordeste em seu estágio inicial querem chutar a escada e impedir que outros clubes sigam o mesmo caminho. O futebol vive disso, dessas mudanças de fase das equipes e sabemos que existem muitas histórias interessantes nisso, do clube tradicional que passa por dificuldades em uma divisão inferior ao time do interior que conquista espaços e representa uma cidade pequena nas principais divisões. Infelizmente esse protecionismo sempre existiu no futebol nacional, não é algo novo, e o ideal é que os novos dirigentes deixassem a ideia de lado. Não é o que está acontecendo na Liga do Nordeste.

Além do destacado problema da falta de coerência no mérito desportivo, existem problemas inerentes ao formato. De acordo com o que foi apurado, a fase preliminar terá etapas disputadas em partida única. É um desafio imenso montar um plantel para jogar um número ínfimo de partidas – e provavelmente sem um retorno financeiro satisfatório, visto que a distribuição das cotas televisivas deve ser pulverizada entre as equipes que caírem na fase preliminar.

A Copa do Nordeste nasceu com uma ideia excelente, dar espaço para clubes sem tanta expressão nacional naquele momento reforçando as rivalidades locais. Teve o apoio de um grupo de mídia que ajudou a impulsionar a competição, um critério coerente de entrada e um regulamento simples. Tudo pode começar a ir pelo ralo por decisões erradas e que agregam pouco ao torneio. Resta saber como será a divulgação e aplicação do novo formato, o que devemos descobrir nas próximas semanas.

João Pedro

Embora não faça nenhum curso relacionado ao jornalismo, vê na escrita de textos uma forma de externar sua paixão sobre o esporte. Esteve por dois anos na equipe de esportes da Rádio do Comércio de Barra Mansa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *