Como o Ranking da CBF ajuda a explicar a evolução de estados e clubes no futebol brasileiro

Como o Ranking da CBF ajuda a explicar a evolução de estados e clubes no futebol brasileiro
Créditos: Marcello Zambrana/AGIF

Criado em 2003 para substituir o antigo ranking de pontos do Campeonato Brasileiro, o Ranking da CBF visava deixar de lado as discrepâncias causadas pelas 32 diferentes fórmulas de disputa do Campeonato Brasileiro antes da adoção dos pontos corridos. Com uma pontuação constante para cada colocação nas três divisões nacionais e na Copa do Brasil, esperava-se que os questionamentos acerca dos números refletidos no ranking diminuíssem.

De fato eles se reduziram, mas não foram totalmente respondidos. O antigo Ranking da CBF levava em consideração todas as edições das quatro divisões e da Copa do Brasil, ou seja, de 1971 pra cá. Não era incomum ver clubes que há muito tempo não tem destaque em competições nacionais, como o America do Rio ou a Tuna Luso, entre os 60 primeiros. Essa versão do Ranking da CBF também deixava de lado os clubes que iam à Copa Libertadores e não disputavam a Copa do Brasil, abrindo possibilidade de times de campanhas medianas somarem mais pontos que um tricampeão nacional.

Com a criação da Série D em 2009 e a reestruturação da Copa do Brasil em 2013, que passou a permitir a presença de clubes que jogavam a Copa Libertadores, o antigo Ranking da CBF não se encaixava mais em nossa realidade. Desde então, o novo ranking passou a ter uma pontuação bem maior em termos numéricos e também passou a levar em conta somente os resultados das últimas cinco temporadas. Isso permitiu a ascensão e a liderança por mais de uma temporada do Palmeiras, que vem alternando títulos e campanhas entre os três primeiros na Série A desde 2016.

Para Pedro Reis, administrador do perfil Futebol Maranhão no Twitter e que acompanha de forma assídua o Ranking da CBF desde 2015, o atual modelo é justo. “Muita gente fala que deveriam valorizar o histórico dos clubes, mas vários times que estavam bem no ranking histórico não fazem muita coisa atualmente. Esses times acabam beneficiados por uma coisa que eles não estão fazendo, algo do passado que não reflete a realidade. O modelo de ranking histórico também é bastante injusto com os times recém-fundados, como Cuiabá, Altos e Globo. Muitos clubes novos não teriam a chance de conseguir vaga em competições pelo ranking histórico”.

Isso fica muito evidente quando pegamos o Ranking da CBF 2012, o último em cima do antigo formato, e o comparamos com o Ranking da CBF 2020, lançado no final do ano passado. Vamos pegar um clube que tenha disputado a Série C por quatro vezes nos cinco anos anteriores à divulgação do ranking. No caso do ranking de 2012, o Luverdense se encaixa nesse contexto, que lhe deu somente a 156ª posição. Já no ranking de 2020, o Ypiranga de Erechim também se encaixa nesse contexto e suas campanhas recentes deram ao canarinho a 51ª posição.

Pedro também considera que os rankings esportivos em geral não são de fácil entendimento, mas entre todos eles o Ranking da CBF é um dos mais simplificados. Cada posição e/ou fase na qual o clube é eliminado garante uma quantidade de pontos conforme disposto na imagem abaixo. Cada uma das últimas cinco temporadas tem um determinado peso, sempre com a temporada mais recente valendo mais. A única mudança para o ranking que será lançado no final da temporada 2020 é que os clubes eliminados na fase preliminar da Série D receberão 10 pontos.

Créditos: reprodução/CBF

O Ranking da CBF é utilizado para definir os potes dos sorteios da Copa do Brasil, Copa do Nordeste e Copa Verde. É por isso que clubes da Série A que disputam a Copa do Brasil geralmente são emparelhados com clubes que costumam jogar a Série D, e as zebras acontecem mais em partidas de estreantes (não-ranqueados), que enfrentam clubes da Série C ou D. Através do ranking de federações, que é elaborado após a soma dos pontos de todos os clubes de um determinado estado, também é definida a quantidade de vagas na Copa do Brasil e na Série D.

É aqui que a evolução fica bem aparente. Ao longo dos últimos cinco anos, tanto clubes como federações estaduais tiveram uma mudança de posições, como mostra a tabela abaixo. Algumas foram impactantes: Santa Catarina chegou a ter uma vaga na Copa do Brasil que hoje é do Paraná, e no final do ano passado o estado do Maranhão ultrapassou o Rio Grande do Norte e conquistou uma vaga na copa. Tudo isso ocorreu pautado no que foi mostrado dentro de campo: SC cresceu no ano em que o estado teve quatro clubes na Série A e o Maranhão conseguiu a ultrapassagem logo após a boa campanha de Imperatriz e Sampaio na Série C.

Créditos: reprodução

Percebam como os clubes que desceram divisões ou sumiram dos campeonatos nacionais perderam mais e mais posições e que o inverso aconteceu com os times que conseguiram acessos. Para o ranking a ser lançado no final da temporada, já é certo que Cuiabá e Red Bull Bragantino ganharão posições por estarem em uma divisão acima da que estiveram por um bom tempo e por estarem presentes nas oitavas de final da Copa do Brasil. O contrário acontecerá com o Joinville, que está na Série D e será ultrapassado por alguns participantes da C, e com o Luverdense, que desistiu da quarta divisão.

Com os estados não será diferente. Além da provável ultrapassagem de Ceará sobre Pernambuco, já comentada aqui anteriormente e que daria uma vaga na Série D para o futebol cearense, outras deverão acontecer neste e no próximo ano de acordo com o que acontecer na fase preliminar da Série D. Com a pontuação reduzida para quem for eliminado antes da fase de grupos, um estado pode perder a passada e ficar para trás – são 200 pontos a menos. A eliminação do Aquidauanense para o Real Noroeste já evidenciou isso: é bastante provável que o estado do Espírito Santo recupere a segunda vaga na Copa do Brasil após mais de cinco anos. Seria uma situação extremamente coerente após as campanhas de Serra (na Copa do Brasil) e Vitória (na Série D) no último ano.

Outras disputas por uma vaga e a possibilidade de conseguir destaque no cenário nacional devem acontecer com Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins, as quatro piores federações. Roraima e Rondônia já largaram na frente após a classificação de Baré e Ji-Paraná e podem ter maior destaque caso um dos clubes do estado consiga avançar duas fases na Série D, algo que já seria um grande feito.

Por mais que às vezes não possa parecer tão fácil o entendimento do Ranking da CBF, a simplicidade de seus critérios – sobretudo se comparado ao Ranking da FIFA ou aos coeficientes da UEFA – o torna mais fácil de ser acompanhado, sendo possível prever seus movimentos. Por conseguir retratar bem o futebol brasileiro a curto/médio prazo, analisar o ranking junto do que acontece dentro de campo e da sede de cada um dos clubes é fundamental para entender como determinado clube ou determinada federação pode aparecer no cenário nacional.

João Pedro

Embora não faça nenhum curso relacionado ao jornalismo, vê na escrita de textos uma forma de externar sua paixão sobre o esporte. Esteve por dois anos na equipe de esportes da Rádio do Comércio de Barra Mansa.

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