Da Lama a Grama: Uma inusitada viagem a terceira divisão do Carioca
Em maio, nós do Contra Ataque, para uma matéria, consultamos o professor Kleber Monteiro, grande entusiasta do futebol do Rio de Janeiro que estava aguardando o lançamento do seu livro “Da Lama a Grama”, cujo tema é a terceira divisão do Carioca com suas histórias e curiosidades. Pois bem, passado um tempo de nossa primeira conversa, o livro foi publicado e agora nós do Contra Ataque batemos outro papo com o Kleber, agora para falar sobre seu lançamento.
Contra Ataque – O estado do Rio de Janeiro possui três divisões inferiores: a B1 que é a que dá acesso a primeira divisão do Carioca, a B2 que é a intermediária e a C que é o último nível do futebol fluminense. Por que você escolheu a B2?
Kleber Monteiro – Esse projeto estava comigo a três e apenas em 2019 pude concluir essa aventura de resgate ao futebol carioca. Originalmente pensei em fazer sobre a Série C, que conta com times tradicionais no futebol brasileiro, como Canto do Rio, Campo Grande e São Cristóvão, que possuem muita história tanto no futebol estadual quanto no nacional, porém ano passado a Série C estava correndo o risco de não ocorrer, e percebi que mesmo se acontecesse, não aconteceria da mesma forma que fiz, um trabalho que cobrisse todos os clubes de forma apropriada, pois foi um campeonato corrido disputado em mata mata, talvez alguns clubes ficassem de fora e não ficaria tão legal. Então preferi falar sobre a B2, que dava para cobrir um time diferente em cada rodada, conseguindo falar sobre todos, contando um pouco sobre a história do clube e depois a resenha do jogo. Alguns times como Maricá, Rio São Paulo e Barra Mansa eu cobri mais vezes, pois chegaram nas semifinais de seus turnos e na fase final do campeonato. É algo bem justo, pois como chegaram perto, ou conseguiram o acesso, a campanha merece ser destacada.
CA: Você mora no Rio de Janeiro, mas para escrever o livro você viajou para o interior para cobrir alguns jogos. Qual foi o estádio mais distante que você visitou?
KM: Eu sou morador da Tijuca, no Rio de Janeiro e o estádio mais distante que viajei foi para o Ferreirão em Cardoso Moreira, que deu cerca de seis horas de viagem de ônibus para acompanhar uma partida do Carapebus, que manda seus jogos lá pela amizade entre o presidente do clube com o do Cardoso Moreira, time da cidade, o que permite o Carapebus jogar lá sem pagar taxa nenhuma. O estádio é muito bem organizado, gostei muito, mas o que cansa é a viagem e depois desse foi o Estádio do Trabalhador em Resende e o Leão do Sul em Barra Mansa
CA: Um dos principais problemas do futebol do Rio de Janeiro é a falta de estrutura. Grande parte dos times das divisões de acesso, por falta de recursos ou de diretorias competentes não conseguem se estruturar. Você testemunhou essa precarização do futebol do estado?
KM: A precarização do futebol não é exclusiva das divisões inferiores, pois afeta a também a Série A do Carioca em muitos casos recorrentes. Eu me surpreendi muito em relação a algumas diretorias, que mostraram um trabalho muito firme no propósito de alavancar o futebol do clube. Me surpreendeu muito positivamente a conduta de alguns dirigentes, fui muito bem recepcionado pela maioria absoluta das diretorias, o trabalho está sendo muito bem reconhecido, pois deu voz a clubes que estavam esquecidos, o trabalho ajuda a dar mais reconhecimento aos times e aos trabalhos feitos pelas diretorias. Em alguns casos tive uns contratempos, mas em meio a tantas coisas positivas não vale a pena serem citadas.
CA: Como foi a recepção do público e da imprensa ao livro?
O trabalho está sendo muito bem recebido tanto pelo público quanto pela imprensa, que cobriu até no rádio e televisão, o que é um fato interessante e merece ser falado, pois apesar da modernidade e da exploração do futebol pela televisão, o que mais atraiu o interesse das pessoas foi uma entrevista para a rádio Tupi, mostrando mais uma vez a força e a importância que o rádio tem. Durante a produção do livro tive contato com rádios que cobrem o campeonato e tivemos o foco muito grande em saber o interesse das pessoas que escutam as rádios, algo muito interessante de ser falado, pois é um meio de comunicação e divulgação muito antigo e que construiu a identificação do brasileiro com o futebol. Me surpreendeu o número de interessados que vieram entrar em contato depois da entrevista com a Rádio Tupi, vieram pessoas de todo o Brasil interessadas em adquirir o livro, foi muito legal isso, inclusive escrevi bastante no livro sobre a importância do rádio na divulgação.
CA: Para finalizar, conte uma história inusitada de sua cobertura na terceira divisão do estadual
KM: Nesse campeonato tiveram várias histórias, que vão desde uma história de superação de vida até lances para lá de inusitados, tiveram muitas histórias curiosas nessa cobertura. Uma história muito bonita é a da Solange, que é uma torcedora do Madureira que estava na torcida do Mesquita, porque o time alvinegro era todo composto por jogadores do Madureira, se não fosse essa ajuda do tricolor suburbano, o Mesquita não teria como disputar o campeonato e me emocionei com a história da Solange que passou por dois AVC, ela na época vivia só com o filho de dez anos, que literalmente cuidou dela e deu todo o cuidado necessário e hoje é uma vendedora de pastel, que é maravilhoso por sinal e é uma história muito bonita de superação. Na terceira divisão a gente vê muito isso, encontra muitas histórias de superação. Me emocionei muito de conhecer a Solange e o maior lucro que tive em escrever esse livro foi justamente conhecer novas amizades, que me ensinaram muita coisa.
CA: Muito obrigado, os interessados em adquirir o livro é só entrar em contato co. no Facebook em seu perfil Kleber Monteiro ou @dalamaagrama no Instagram