Uma fusão uniu um clube tradicional com o bom trabalho de base no futebol romeno

Uma fusão uniu um clube tradicional com o bom trabalho de base no futebol romeno
Foto: reprodução/GSP

É raro vermos equipes romenas que conseguem se sustentar a longo prazo dentro do futebol local. Com inúmeras trocas de donos e o surgimento de investidores cujo dinheiro não possui uma origem tão clara, muitas equipes surgem com bastante força, participam da Liga I, são rebaixadas e desaparecem. Desde a temporada 2012-13, 36 clubes disputaram a elite do futebol romeno, que nunca teve mais do que 18 participantes desde então. Um sexto dessas equipes foram extintas, enquanto outras – incluindo ex-campeões nacionais – passaram por dificuldades financeiras, com algumas chegando à falência.

Embora não tenha participado da Liga I ao longo dos últimos 10 anos, o centenário Farul Constanța engrossou a estatística das equipes que passaram por falência. Depois de sofrer o rebaixamento na temporada 2008-09, os Marinarii viram o agravamento de seus problemas financeiros com o passar dos anos. Foram sete temporadas pouco competitivas na segunda divisão até a falência em 2016. Presença constante na elite ao longo das décadas de 1990 e 2000, o Farul foi refundado nos braços da torcida, renascendo nas divisões regionais e alcançando o retorno à Liga II em 2018, quando foi comprado pelo ex-atacante Ciprian Marica.

A 20 minutos da cidade mais antiga da Romênia, em Ovidiu, outro ex-atleta romena fundou um clube em 2009. O Viitorul Constanța foi criado por Gheorghe Hagi e ganhou fama através de suas categorias de base e do sucesso dentro de campo, alcançado de forma surpreendente. Três anos depois de ser fundado, o Viitorul estreou na Liga I e demorou apenas três temporadas para fazer boas campanhas, obtendo o 5º lugar na temporada 2015-16. Superando camisas pesadas como as de Dinamo Bucareste, FCSB e Universitatea Craiova, o time criado e treinado por Hagi conquistou o inédito título nacional na temporada 2016-17. Dois anos depois, veio o título da Copa Romena.

Apesar do bom retrospecto, a temporada 2020-21 não foi das melhores para o Viitorul. Hagi abdicou da função de treinador da equipe e três treinadores conduziram o time ao longo das 41 partidas disputadas pelo clube na Liga I. O resultado animou pouco, pois embora o Viitorul tenha concluído o campeonato na 10ª posição, passou boa parte da reta final brigando contra o descenso. Na Liga II, o Farul Constanța ficou fora do hexagonal final no critério de desempate e portanto ficou distante do acesso.

Mesmo com participações razoáveis nas temporadas recentes e sem nenhum problema financeiro, as duas equipes da região litorânea decidiram se fundir no último mês de junho. Após semanas de tratativas, o anúncio definitivo foi feito em uma conferência de imprensa no dia 21 daquele mês. Além de Hagi, Marica e autoridades locais, outros dois jogadores aposentados estavam presentes na coletiva: Gheorghe Popescu, ex-zagueiro com passagens por PSV, Galatasaray e Barcelona, e Zoltán Iasko, ex-goleiro que fez boa parte de sua carreira na Universitatea Cluj.

Farul Constanța
Foto: reprodução/Prosport

Como esperado, o sentimento de união foi bastante mencionado ao longo da conferência de imprensa. Enquanto o Farul Constanța manteve o escudo e o nome, o Viitorul emprestou o estádio localizado em Ovidiu e a estrutura da Gheorghe Hagi Football Academy, montada em 2009 pelo ex-jogador e que foi o local das categorias de base do Viitorul por toda sua existência.

Dentro de campo, os resultados são animadores. A campanha ao longo da temporada 2021-22 é mais consistente, relembrando a época de ouro do Viitorul. Nas primeiras 15 rodadas, os Marinarii obtiveram triunfos importantes sobre Dinamo Bucareste (3×0) e Academica Clinceni (5×0). É uma das equipes que melhor sabe utilizar o fator casa, com a quarta melhor campanha como mandante e com metade do estádio ocupado ao longo da liga – a melhor taxa de ocupação da elite romena. Apesar da base ser formada por atletas que estavam no Viitorul na última temporada, boas contratações elevaram o patamar do time, caso do lateral holandês Bradley de Nooijer (que volta de empréstimo do Vorskla, da Ucrânia) e do atacante espanhol Jefté, que teve um certo sucesso no pequeno Voluntari.

Desde a ascensão do CFR Cluj e o ressurgimento da Universitatea Craiova, tornou-se bem difícil obter uma sequência de boas campanhas no Campeonato Romeno. Equipes de menor porte até se aproximam das primeiras posições na tabela, mas dificilmente se mantém em alto nível por muitos anos. Com uma torcida presente e um belo trabalho de formação e garimpo na base – que rendeu a convocação do jovem Enes Sali, de apenas 15 anos, pela seleção principal romena, o Farul possui condições de se credenciar como uma das principais equipes romenas nas próximas temporadas.

João Pedro

Embora não faça nenhum curso relacionado ao jornalismo, vê na escrita de textos uma forma de externar sua paixão sobre o esporte. Esteve por dois anos na equipe de esportes da Rádio do Comércio de Barra Mansa.

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