A escrita do Dinamo Bucuresti, nunca rebaixado na Romênia, está prestes a ser quebrada

A escrita do Dinamo Bucuresti, nunca rebaixado na Romênia, está prestes a ser quebrada
Foto: Dinamo Bucuresti/Facebook

Vencedor do Campeonato Romeno em 18 ocasiões, o Dinamo Bucuresti é sem sombra de dúvidas uma das equipes mais tradicionais de seu país. Presentes na primeira divisão local desde sua fundação em 1948, os Cães Vermelhos possuem uma das grandes torcidas da Romênia e passaram por momentos de grande tranquilidade após a queda do ditador Nicolae Ceaușescu, um privilégio que muitas equipes não tiveram – mesmo camisas tradicionais foram refundadas. Hoje, o cenário é bem diferente: na vice-lanterna da elite, o Dinamo está em situação complicadíssima e o rebaixamento parece ser apenas questão de tempo.

Tal como boa parte dos times que faziam parte das ligas nacionais da antiga Cortina de Ferro, o Dinamo era associado a uma entidade governamental, o Ministério de Assuntos Internos. Mesmo ofuscado pelo Steaua, time do coração de Ceaușescu e que chegou a ter um de seus filhos como diretor geral, o Dinamo viveu seu melhor período na década de 1980, quando conquistou quatro títulos nacionais e obteve grandes campanhas na Europa, tal como aconteceu na temporada 1983-84. Após superar Kuusysi, Hamburgo e Dinamo Minsk, o Dinamo Bucuresti foi parado pelo Liverpool nas semifinais da Copa dos Campeões.

Após a Revolução de 1989, o futebol local não foi mais o mesmo. Sem as amarras que dificultavam a saída de jogadores romenos, as equipes locais enfraqueceram e o que se viu por muitos anos foi um revezamento de equipes na Liga I, a primeira divisão local. Ex-campeões nacionais como Argeș Pitești, UTA Arad e Universitatea Craiova faliram e foram refundados. Outras, como Rapid București e Otelul Galati, foram do inferno ao céu e depois voltaram ao inferno, tendo seu momento de glórias após muitos reveses e não conseguindo manter o nível. Independente da situação, lá estavam Steaua e Dinamo, que ganharam a companhia do CFR Cluj no hall de equipes mais bem sucedidas.

O cenário atual é bem diferente. O Cluj domina amplamente o cenário local, o Steaua passou a disputar o posto de segunda força com a Universitatea Craiova e o Dinamo se vê em meio à luta contra o rebaixamento, um filme que se repete desde a temporada 2018-19, mas é consequência de situações que aconteceram anos antes. O empresário Ionuț Negoiță adquiriu em 2013 o controle de um clube já fragilizado por dívidas, mas que obtia resultados dentro de campo. A conta não fechava e no ano seguinte o Dinamo deu entrada no pedido de insolvência. O time passou a apresentar resultados irregulares em campo e a difícil situação financeira impediu o clube de participar dos campeonatos promovidos pela UEFA.

Mesmo após a saída do processo de insolvência, os resultados seguiram aquém do esperado para um clube tão tradicional, mas que está longe da taça há 15 anos. A temporada 2019-20 foi bastante perigosa para os alvirrubros. O time obteve um desempenho bem ruim no grupo de rebaixamento da Liga I e só não correu maiores riscos porque não houve nenhum rebaixado. O contexto do primeiro ano de pandemia, com um calendário bastante modificado e equipes tendo surtos de covid, permitiu essa manobra por parte da Liga Profissional. Na temporada 2020-21, o Dinamo concluiu a liga na 12ª posição, uma acima da primeira equipe a disputar os play-offs de acesso e rebaixamento.

A situação financeira do Dinamo poderia ter tomado novos rumos após a chegada do grupo espanhol Benel International, que se tornou o acionista majoritário do clube em agosto de 2020. A chegada de novos investidores permitiu a elaboração de metas ambiciosas, como o retorno às competições europeias. Nem mesmo os jogadores espanhóis contratados pelo clube já sob a administração da Benel receberam seus salários em dia. Em junho de 2021, veio um novo pedido de insolvência. A Benel International, mesmo falida, segue como acionista majoritária do Dinamo, e um coletivo de torcedores, dono de cerca de 20% das ações do clube, é quem vem dando as cartas nos últimos meses.

Torcida Dinamo Bucuresti 2022
Foto: Dinamo Bucuresti/Facebook

Com um clube parcialmente acéfalo e sem muitos recursos financeiros, era de se esperar que a bagunça administrativa refletisse nos resultados em campo, e é o que vemos na temporada 2021-22. Embora tenha vencido duas das três primeiras partidas da temporada, o Dinamo perdeu as sete partidas que vieram em seguida e está atualmente em uma nova sequência de derrotas, essa de seis jogos. O Dinamo Bucuresti está na vice-lanterna da competição com 12 pontos em 25 jogos, e teve como pontos mais baixos da campanha as goleadas sofridas para o FCSB/Steaua (6×0, em setembro) e para a Universitatea Craiova (6×1, no último dia 10).

O futuro é bastante sombrio para os torcedores dos Cães Vermelhos. Mesmo com mais 14 jogos pela frente, o time não dá sinais de reação e vem de uma sequência bastante ruim de resultados. Aliado ao calvário financeiro, é possível duvidar até mesmo da existência do clube na próxima temporada caso o inédito rebaixamento seja consumado. Em um país no qual os clubes vão à falência e são refundados com tanta facilidade, nada mais sintomático do que um dos principais clubes siga o mesmo caminho.

João Pedro

Embora não faça nenhum curso relacionado ao jornalismo, vê na escrita de textos uma forma de externar sua paixão sobre o esporte. Esteve por dois anos na equipe de esportes da Rádio do Comércio de Barra Mansa.

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